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Ano 3 - Edição 820- Fortaleza - Junho de 2013



domingo, 9 de janeiro de 2011

CONFISSÕES DE UM REPÓRTER




Carlos Lacerda, fundador em 1949
 e proprietário do jornal Tribuna da Imprensa. Ferrenho oposistor de Getúlio Vargas, foi deputado federal pela UDN e governador do extinto estado da Guanabara.Posteriormente vendeu a Tribuna, ao jornalista Hélio Fernandes (à direita).



GRÁFICA EMPASTELADA, 

CENSOR DE PLANTÃO

José Mário Lima
   

Foram anos difíceis aqueles, a partir de janeiro de 1968, quando cheguei ao Rio de Janeiro, para continuar o curso de Jornalismo, na Escola de Comunicação da UFRJ. Nunca havia saído de casa para passar mais que um final de semana fora, e agora estava ali, na cidade grande, perdido na multidão, em meio a uma fase crítica da Historia do Brasil, respirando ao ar da guerra-de-guerrilha que inundou a cidade.

Agora a realidade era outra: morava na Casa de Estudantes Universitários, na Lapa e minha vida ficou assim girando em volta do centro do Rio. A faculdade ficava na Praça da República, próxima a Central do Brasil e meu primeiro jornal, na Rua Riachuelo, um endereço famoso pelas vezes em que a policia invadiu a sede da Tribuna da Imprensa, ora para prender Hélio Fernandes, ora para empastelar as máquinas da gráfica do jornal.

A Tribuna, que Helio comprou de Carlos Lacerda, tinha um estigma: ser continuamente perseguida pela ditadura militar, porque ali para eles era foco de subversivos.

Helio Fernandes não pensava assim: defendia a democracia e a liberdade de expressão e por isso muitas vezes dormiu nos xadrezes do famoso DOPS  ou na Ilha Grande, para onde foi mandado certa vez.

E foi ali, naquele foco de resistência democrática que o destino quis me colocar. A Escola de Comunicação vivia mergulhada no medo, alunos eram perseguidos e presos, mas tudo funcionava como se nada de mais grave existisse. Minha primeira iniciativa na escola, tão logo conheci os professores, foi tentar conseguir um estagio num jornal.

O escritor Assis Brasil, era professor de Jornalismo da ECO e logo fiz amizade com ele e com Jose Louzeiro, dois nordestinos, que como eu tinham feito a mesma opção: deixar a terra natal para tentar a vida na cidade grande, no Rio de Janeiro.

Assis Brasil mandou falar em seu nome, com Wilson Correia, chefe de reportagem da Tribuna, mais conhecido como “Bagrinho”. E assim eu fiz. Procurei Bagrinho e me apresentei. Ele sorridente me perguntou:

- Quando quer começar?

-Agora, disse destemido!

E ele:

-Então vá cobrir uma reunião que esta acontecendo na Sede do Sindicato dos Bancários, lá na Avenida Rio Branco.

Bagrinho, um tipo alegre, magro, esquelético mesmo, que vez por outra descia da redação e ia molhar o bico no bar da esquina. Dava pra ver que ele estava sempre sóbrio, com um cigarro na boca.

Sai da redação e desci a pé rumo a Avenida Rio Branco e na pressa não perguntei nem qual era o número do prédio onde funcionava o sindicato. Na esquina do Largo da Carioca, desci mais uma quadra e fiquei pensando:

- Como vou encontrar o sindicato?

A Avenida Rio Branco começa na Praça Mauá, atravessa a Avenida Presidente Getúlio Vargas e segue até a Cinelândia e Passeio Público. Nessa hora usei uma aliada que sempre me guiou em momentos difíceis: a intuição.

Olhei para baixo, só a multidão. Olhei para cima e vi que a multidão tinha tomado uma parte do asfalto. Só pode ser ali, pensei. Desci alguns quarteirões e lá estava o piquete dos bancários montado, na esquina da Rua Sete de Setembro.

Fiquei feliz. Entrevistei o presidente do Sindicato dos Bancários e voltei a pé a redação para redigir a matéria. Lá encontrei com Assis Brasil que era copy-desk da Tribuna. Fiquei por ali tomando pé de tudo, e conversando com o mestre.
Quando o jornal fechou a edição Assis me convidou para jantar, mas eu não tinha uma só moeda no bolso. Fui sincero:

- Professor estou sem dinheiro!

E ele:

-Eu estou convidando e deixe tudo por minha conta!

Aquela situação me deixou um pouco embaraçado, pois almoçávamos o restaurante do Calabouço ou do Caco, este, na Faculdade de Direito. Só que o restaurante fechava a 19 horas. Entrava na Faculdade às 7 horas e largava ao meio dia. Na Tribuna meu horário era das 14 às 19 horas.

Meu estágio na Tribuna da Imprensa começou com o é direito. No outro dia a matéria do sindicato dos bancários e a greve anunciada deram primeira página. E assim continuei na Tribuna, que não pagava nada aos estagiários,mas nos dava apenas um vale almoço, na cantina do Jornal.

Conheci na Tribuna grande repórteres, famosos mesmos, como Luiz Carlos Sarmento e sua mulher Sandra, Pedro Porfírio, Tim Lopes, nessa época (foca) estava se iniciando no jornalismo. Fiz amizade com outro nordestino do “coração de ouro”, Jorge França, pernambucano que trouxera a mãe e os irmãos para morar no Méier, Subúrbio da Central do Brasil, e que sempre me convidava para nos finais de semana ir almoçar na casa dele, já que eu não tinha parentes no Rio.

Luciano Calegari era outro protegido do Jorge. Calegari era diagramador e fora preso com Pedro Porfírio, por pertencer ao MR-8 e sofreram todo tipo de torturas.

Pedro Porfírio apanhou tanto que terminou entregando o grupo. Também com os dentes todos quebrados, e submetido a sessões de “pau-de-arara”, quem não confessaria?

Evandro Diniz, o editor internacional morria de medo de ser preso. Uma vez o substitui durante suas férias, e no aniversário da explosão das bombas atômicas em Hiroxima e Nagasaki, fiz uma diagramação ousada pra época: uma montagem de bombas caindo do céu!

Evandro no outro dia ligou pra mim e disse:

- Você está louco? Quer que eu seja preso?

Na época o Pasquim, e a maioria da imprensa fazia o mesmo. Usava as “entrelinhas” para dizer o que não se podia, na época da ditadura. Era uma situação bastante incomoda e a insegurança fazia parte do nosso dia-a-dia.

Hélio Fernandes mesmo preso dava um jeito de escrever sua famosa coluna denunciando os abusos da ditadura e sua fiel escudela era uma mulher: D Nice, que respondia pelo jornal e mantinha a parte burocrática funcionando.

Não conformados com sua resistência pacífica, um dia o Dops invadiu a gráfica do jornal e quebrou tudo. “Empastelou” toda tipografia, quebrou linotipos, num ato de barbárie medieval.

Mas o jornal no outro foi às bancas e denunciou a arbitrariedade. As matérias foram compostas na gráfica de O Dia e a Notícia. Com o arrocho do AI-5 e como não conseguiam parar a Tribuna da Imprensa, nem calar Hélio Fernandes, conhecemos nas redações de alguns jornais, a figura do censor. E a Tribuna veio em primeiro lugar.

Era patético mesmo, mas aconteceu: tudo que era escrito no jornal, antes de ir para a mão do editor, passava pela mão do censor, que ficava ali sentado, sisudo, esperando os textos. O seu poder de veto era total. Só o que ele aprovava podia ser publicado.

A Tribuna da Imprensa era considerado um jornal pequeno, no Rio de então, mas com uma história de fazer inveja nos meios políticos nacionais. Pertencera ao hábil político, ex-governador do Rio e fundador da UDN, Carlos Lacerda , que a vendeu a Helio Fernandes, a despeito de tudo que inventavam a seu respeito, manteve o jornal durante toda ditadura, circulando, mesmo com cerrada perseguição.

Um dia aconteceu um fato engraçadíssimo, que virou folclore na imprensa carioca. Na Tribuna havia um continuo de nome Napoleão. Lá Wilson Bagrinho apelidava todo mundo e Napoleão virou, simplesmente, “Napô”.

 Era Napô pra aqui Napô pra acolá. Napô, malandro dos morros cariocas, tinha um gingado especial ao andar: parecia um mordomo inglês, mas com a fleugma carioca, cheios de piadas e gozações, com tudo e com todos.

E numa noite dessas de muita tensão, com Hélio Fernandes na Ilha Grande, Mauro era o editor substituto. Napõ cismou de fazer um gracejo com o censor de plantão. Apanhou uma pilha de matérias em cada editoria e colocou na mesa do censor. Quando o tal pegou a caneta e começou a “cortar” o texto, Napô chegou de mansinho, por trás dele e disse:

- Censurando, Himm?

O homem deu um muro na mesa e foi papel pra todo lado. O fato foi tão hilário que a redação em peso deu uma gargalhada. Ai foram horas e horas de negociação do Mauro com o censor, que queria a cabeça do Napoleão. Chegou a chamar o Dops para prendê-lo. Com muito custo foi convencido que o  “bom criolo” era dado a esses “chistes” e que não fizera aquilo por mal.

Assim comecei minha vida de repórter no Rio. Dois anos depois José Louzeiro me indicou para repórter de O GLOBO e lá permaneci até pedir demissão, juntamente com ele, para fundamos um jornal de escritores, com cara de jornal de cidade grande e com a missão de criarmos o Sindicato dos Escritores do Rio.

Viajamos o Brasil levando essa idéia. Em cada congresso literário lá estávamos na primeira fila com a nossa bandeira na mão: O Sindicato dos Escritores. Ouvimos escritores consagrados e as vanguardas das letras. Foi um tempo bom, onde sublimamos a dor e a perseguição política, em meio aos arroubos da Literatura Nacional. Era mais fácil protestar ou falar através de poemas concretos ou de personagens.

Naquela época, por volta de 1970, vimos Edson Luiz ser trucidado nas ruas da Cinelândia e quase morremos metralhado em frente à Câmara Municipal do Rio, na praça de guerra que o Rio se transformara. Agora no Jornal do Escritor, víamos tudo do alto da Rua Senador Dantas, na Cinelândia, e nosso enfoque era outro.

 Eu era tão inexperiente que pedi demissão de O Globo para viver uma linda aventura. Mas vencemos e dela não me arrependo, porque em 1971 o jornal acabou, mas o Sindicato dos Escritores dó Rio de Janeiro foi fundado. Voltei a O Globo anos depois, mas essa é outra história.

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CULINÁRIA DELICIOSA COM LILI A MULHER DA SERRA

Culinária Deliciosa com Lili

COZIDÃO

ingredientes

  • 1kg de músculo
  • 1 colher de colorau
  • pimenta
  • cominho
  • tempero baino
  • 1 colher café de sal temperado
  • 1 cebola grande em pedaços
  • 4 dentes de alho
  • 2 sachês tempero do nordeste e sabor carne
  • 2 cenouras
  • 2 batatas portuguesas e doce
  • 1 mandioca
  • 1 beterraba
  • 1 chuchu
  • 1 pimentão
  • 1 couve
  • 2 tomates
  • cebolinha
  • salsinha
  • 300g de quiabo, de repolho, maxixe, abobora cabotia (jerimum caboclo)

Modo de preparo

Corte a carne em pedaços médios, coloque na panela de pressão com a cebola e todos os temperos. Coloque água atá cubra e coloque pra cozinhar.

Enquanto cozinha, lave e corte as verduras, beterraba separe, cenoura separe, batatas, mandioca e repolho separe, chuchu, quiabo, maxixe, abobora, couve, salsinha e cebolinha, tomates e pimentão.

Quando a carne estiver cozida coloque a beterraba e água até cobrir por 5 minutos na pressão. Depois a cenoura por mais 5 minutos, depois as batatas,a mandioca, o repolho e o chuchu, pimentao, mais 5 minutos, e por último quiabo, maxixe, abóbora, couve, salsinha, cebolinha, tomates. 1 sachê de tempero de carne. Cozinhe os últimos sem pressão por uns 10 minutos.

LILI A MULHER DA SERRA

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