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Ano 3 - Edição 820- Fortaleza - Junho de 2013



domingo, 16 de janeiro de 2011

CONFISSÕES DE UM REPÓRTER




            
                       JOSE MÁRIO LIMA






Não fazia um mês que havia me transferido para a Escola de Comunicação do Rio de Janeiro, em março de 1968. Estagiário da Tribuna da Imprensa fui designado para cobrir os piquetes de resistência dos estudantes, no Calabouço.


O Calabouço há muito se tornara um centro de resistência estudantil ao regime ditatorial de então, desde os tempos da demolição do antigo restaurante em 67 e da construção de um galpão, onde passou a funcionar o novo restaurante, na Praça Ana Amélia, próximo ao Museu de Arte Moderna. A comida do restaurante era péssima, apesar de custar só 50 centavos de cruzeiro., mas era o que tínhamos até a ditadura fecha-lo de vez.


Havia no meio estudantil uma preocupação permanente, em defender o Calabouço, o último reduto de resistência ao regime militar. Por isso, uma vigília permanente, na área externa do restaurante, era feita pelos estudantes.


Mas naquela manhã do dia 28 de março de 1968, ninguém poderia supor que o restaurante seria palco de tantas violências e arbitrariedades, quando uma tropa da PM, sob o comando do Exército invadiu o Calabouço sob rajadas de metralhadoras.


Como repórter sempre fui muito prudente e guiado por um fotografo experiente da Tribuna,era sempre aconselhado a fazer a cobertura a uma certa distancia, sempre escondido por traz de colunas de edifícios ou árvores. Desci da Tribuna a pé no rumo do Calabouço, que ficava próximo ao Aeroporto , há algumas quadras do Passeio Público e da famosa Cinelândia.


No Passeio Público já sentíamos o cheiro forte das bombas de gás lacrimogêneo e o centro do Rio estava transformado em praça de guerra. Os estudantes, divididos em pequenos grupos corriam de um lado para outro, ora no sentido do prédio do Ministério da Educação ora nas ruelas próximas ao restaurante.


O cordão de isolamento feito pela PM havia entrincheirado os estudantes em frente ao MEC, enquanto outro grupo defendia com mãos desarmadas, a frente do restaurante do Calabouço. E naquele corre-corre sem fim, ora num sentido hora noutro, os camburões da policia se aproximavam e os estudantes presos eram jogados como animais dentro de um cubículo.


Nas calçadas próximas aquela "praça de guerra" a multidão observava inerte. Nós , repórteres de rua, logo aprendemos como neutralizar os efeitos do gás lacrimogêneo: molhávamos os lenços em água e tapávamos a respiração, enquanto  umedecíamos os olhos em fogo.


De repente ouvimos rajadas de metralhadora vindas do lado do restaurante do calabouço e procuramos nos aproximar ao máximo para registramos os fatos. Um grupo pequeno de estudantes se aproximou e trazia um jovem ferido, correndo no sentido da Avenida Rio Branco.


Cheguei bem perto e vi que o jovem estava morto. Nunca esqueci aquele olhar vazio, distante, e aquele filete de sangue correndo de um único ferimento de bala na altura do coração. A expressão do jovem lembrava a de Che Guevara, também morto por defender a liberdade , contra a tirania de regimes que escravizavam os menos favorecidos.


O cortejo seguiu rumo a Câmara dos Deputados do Rio e os policiais nada fizeram para impedi-los. Agora a luta pela volta do regime democrático tinha seu mártir público, porque naquele mesmo dia outros estudantes foram mortos e seus nomes nunca foram conhecidos , com pouquíssimas excessões. Os camburões saíram da praça de guerra lotados de estudantes feridos, jogados como gado sem dono, atirados uns sobre os outros.


A confusão se generalizou quando as lideranças políticas estudantis, agora entrincheirados na Camara Municipal, se revezavam em comícios, aos gritos de “abaixo a ditadura”. Vladimir Palmeiras era um dos mais veementes, mas a polícia continuava cercando a praça principal da Cinelândia na tentava dissolver os piquetes, com cassetetes em punho, sabres, bombas de gás lacrimogêneo e rajadas de metralhadoras.


As essas alturas, a confusão era tanta que o fotógrafo da Tribuna sumiu e eu fiquei ingenuamente no meio do fogo cruzado, em frente à Camara dos Deputados. Num ato providencial, pois estava perplexo e sem reações, ouvi um grito e um puxão na aba do paletó:


- Se abaixa Mario Lima! Aqui Mario Lima!


Senti-me arrastado para trás da mureta de proteção da Camara dos Deputados, enquanto as balas ricocheteavam nos pilares do prédio. O meu "anjo salvador" foi um repórter fotográfico que conheci ainda no Correio do Ceará, dos Diários Associados: Vieira Queiróz, naquela época, no Rio, trabalhando para a Revista Manchete.


O saldo de baixas daquele dia fatídico, nunca foi divulgado totalmente, até porque o regime não permitia. Sabemos que alguns repórteres saíram feridos com estilhaços de bala nas pernas e que muitos estudantes morreram. Alguns noticiados em registro policial. Mas a verdade mesmo é que muitas maquinas fotográficas foram quebradas, repórteres e estudantes presos. E Edson Luiz, o estudante paraense, transformou-se num mártir da Liberdade.


Sua necropsia foi feita no próprio local do velório, a Camara dos Deputados do Rio, pelos Drs. Nilo Ramos de Assis e Ivan Nogueira Bastos, na presença do Secretário de Saúde do Estado. Seu óbito de n. 16.982 teve como declarante o estudante Mário Peixoto de Souza. O corpo carregado por milhares de estudantes, até o Cemitério São João Batista, numa passeata que parou o centro do Rio.  


Hoje sabemos que Edson Luiz Lima Souto, nasceu no dia 24 de fevereiro de 1950, em Belém, no Pará. Filho de Maria de Belém de Lima Souto era de família muito pobre e começou seus estudos primários na Escola Estadual Augusto Meira, em sua cidade natal.


Mudou-se para o Rio de Janeiro e prosseguiu seus estudos secundários no Instituto Cooperativo de Cooperativo de Ensino, que funcionava no tradicional restaurante carioca Calabouço. Edson foi assassinado a queima roupa durante a repressão policial da ditadura utilizada para desalojar os estudantes que haviam ocupado o Calabouço no dia 28 de março de 1968.


O registro de Ocorrência n. 917, da 3ª DP informou que, no tiroteio ocorrido no Restaurante Calabouço, outras seis pessoas ficaram feridas, sendo atendidas no Hospital Souza Aguiar.


Foram elas: Telmo Matos Henriques, Benedito Frazão Dutra (que veio a falecer, logo depois), Antônio Inácio de Paulo, Walmir Gilberto Bittencourt, Olavo de Souza Nascimento e Francisco Dias Pinto.
 Outras três pessoas, segundo a policia, saíram feridas na Praça Floriano, (Cinelândia), durante o velório de Edson Luiz, realizado na Assembléia Legislativa, são elas: Jouber Valan, João Silva Costa e Henrique Rego Carnel, também atendidos no Hospital Souza Aguiar.


Isso o que se soube através do registro da ocorrência. Mas para nós, que cobrimos a matéria in loco, o número de corpos atirados inertes, dentro dos camburões da policia militar foi bem maior.


O estudante Edson Luiz Lima Souto foi homenageado, 40 anos depois de tudo, na praça Ana Amélia, centro do Rio de Janeiro, onde existe uma escultura em sua homenagem.


O evento foi o resultado de uma parceria entre a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, Prefeitura do Rio de Janeiro, União Nacional dos Estudantes (UNE), e União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES). A da mãe de Edson Luis, Maria de Belém Souto Rocha, também esteve presente na inauguração do busto em homenagem ao filho assassinado.
Assim se passaram 40 anos e não conseguimos esquecer aquele triste dia no Rio de Janeiro!



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CULINÁRIA DELICIOSA COM LILI A MULHER DA SERRA

Culinária Deliciosa com Lili

COZIDÃO

ingredientes

  • 1kg de músculo
  • 1 colher de colorau
  • pimenta
  • cominho
  • tempero baino
  • 1 colher café de sal temperado
  • 1 cebola grande em pedaços
  • 4 dentes de alho
  • 2 sachês tempero do nordeste e sabor carne
  • 2 cenouras
  • 2 batatas portuguesas e doce
  • 1 mandioca
  • 1 beterraba
  • 1 chuchu
  • 1 pimentão
  • 1 couve
  • 2 tomates
  • cebolinha
  • salsinha
  • 300g de quiabo, de repolho, maxixe, abobora cabotia (jerimum caboclo)

Modo de preparo

Corte a carne em pedaços médios, coloque na panela de pressão com a cebola e todos os temperos. Coloque água atá cubra e coloque pra cozinhar.

Enquanto cozinha, lave e corte as verduras, beterraba separe, cenoura separe, batatas, mandioca e repolho separe, chuchu, quiabo, maxixe, abobora, couve, salsinha e cebolinha, tomates e pimentão.

Quando a carne estiver cozida coloque a beterraba e água até cobrir por 5 minutos na pressão. Depois a cenoura por mais 5 minutos, depois as batatas,a mandioca, o repolho e o chuchu, pimentao, mais 5 minutos, e por último quiabo, maxixe, abóbora, couve, salsinha, cebolinha, tomates. 1 sachê de tempero de carne. Cozinhe os últimos sem pressão por uns 10 minutos.

LILI A MULHER DA SERRA

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